sexta-feira, 1 de julho de 2016

Daqui para frente

Toda a minha formação profissional foi baseada em planejamentos, métricas, índices, controles e coisas do tipo. Provavelmente reflexo do objetivo de controlar a vida. Ter metas pessoais e disciplina é extremamente saudável,  mas a busca incessante pela falsa sensação de segurança e controle das coisas é insana.

Deve ser insegurança, medo ou algo da mesma família esta necessidade de ter as coisas sob controle. Mas quais são de fato estas tais coisas que precisamos controlar? E diante destes questionamentos e me percebendo mais uma vez como um cachorro correndo atrás do rabo, que eu paro para pensar em quais são as "coisas" que me fazem feliz. O exercício de apenas permitir deixar os pensamentos virem, sem controle, sem julgamentos, invariavelmente me transporta para momentos que me deixaram entregue às sensações, e sem noção do tempo e do espaço. 

Momentos, "momentinhos", "momentões" que validam a afirmação de Adélia Prado, quando diz que o que a memória ama, fica eterno. E a minha memória afetiva se abastece exatamente quando esqueço de querer controlar. Sou grata às inúmeras situações inesperadas, que ajudaram a acender muito daquilo que intitulo de a chama da vida. Como a sensação de perceber a empatia de um garoto de cinco anos que me deu seu super-héroi de brinquedo para me proteger logo após eu ter sido assaltada.


Como não amar a o momento em que vi as minhas sobrinhas pela primeira vez? Apesar dos onze anos de diferença entre as duas, a vontade de ficar horas sentindo aquele cheiro de bebê recém-chegado à vida foi a mesma. Ainda lembro da sensação de entrar em um metrô pela primeira vez, algo talvez tão banal para uns, mas, para mim, a concretização de uma mudança de vida. Ainda sinto o ventinho gelado das ruas de Palermo quando sai correndo bêbada em Buenos Aires ralando o meu braço nas paredes das casas... Nada como sentir o coração pulsando de gratidão ao realizar o sonho da minha mãe de conhecer o Santuário de Aparecida, a delícia de cruzar toda uma cidade "apenas" para receber um abraço na catraca do metrô e me sentir invencível ao andar em uma das maiores rodas-gigantes e ver o mundo do alto.

Nenhuma planilha de Excel vai conseguir listar e mensurar estas emoções, é preciso ter coragem para se entregar ao incontrolável. Quantas sensações deixamos de sentir pela mania de querer quantificar, entender e explicar tudo? Trazer à tona certas lembranças não tem a intenção de me levar ao passado, pelo contrário, elas me ajudam a decidir como eu quero viver a minha vida daqui para frente...