domingo, 26 de junho de 2016

A borboleta que não se sabia bela

Eu acredito que existem muitos mundos por aí, acessá-los é muito mais fácil do que abrir o guarda-roupa de Nárnia, muito mais. Basta só olhar ao redor com um pouquinho mais de atenção. Existe um em específico no qual as crianças acessam como num piscar de olhos. É difícil para um adulto desprovido de imaginação acompanhar as idas e vindas das crianças deste mundo. Eu costumo chamá-lo de "Mundo das Coisas Belas". É o mesmo mundo onde nasceram a música, a poesia, o arco-íris, o cinema, o abraço, os risos, o cafuné e outras tantas coisas belas que nos fazem felizes. 

Neste mundo, as crianças podem ser elas mesmas, podem ter dúvidas, mas jamais terão receio de perguntar, aliás, parece que quanto mais destemido você é, mais tempo você passa nele. As crianças não me deixam mentir, todos os dias elas desbravam um pedaço deste mundo, sejam em seu barco de pirata se lançando em mares desconhecidos, sejam adentrando florestas secretas.

E foi numa destas florestas, que num habitual belo dia, uma criança encontrou uma lagarta desorientada andando de um lado para o outro com aquele monte de pernas. Ele, com a autoridade de quem carrega o nome de um antigo Rei Grego, conhecido como "O Grande", olhou para aquela pequena lagarta e perguntou porque ela andava daquele jeito, praticamente em círculos, rodando para lá e para cá e sem sair do lugar. A lagarta então disse que não sabia ao certo o que fazia ali, já que ninguém brincava com ela devido ao receio que os outros tinham de tocá-la e se queimarem. Além disto, devido ao seu tamanho, ela via pouca coisa, apenas a terra e folhas caídas no chão. A impressão que o garoto teve foi a de que toda aquela amplidão dava mais medo à lagarta do que o medo que os outros tinham de pegá-la.

O garoto, num ato de generosidade e coragem típica dos pimpolhos de três anos de idade, levou aquele pequeno ser para onde estavam as outras crianças. A curiosidade inicial daqueles olhinhos brilhantes deu lugar a uma tarde lúdica, onde os sorrisos daqueles pequeninos criaram uma espécie de escudo mágico, onde o medo, nem nada que não pertencesse àquele mundo, poderia entrar.

Porém, existe aquele momento do dia em que as crianças precisam voltar para o "Mundo dos Pais" e não são todos os adultos que entendem a felicidade de se passar um tempo brincando com uma lagarta. Por isto, o pequeno inseto se sentiu mais uma vez solitário e se fechou em seu casulo. O passar dos dias envolta naquele véu, presa em si mesma, foram dias reflexivos para a lagarta. 

Foi quando se deu conta de que fazia parte daquele mundo que ela tanto temia e que somente no dia em que se abrisse para a vastidão das possibilidades da vida, ela poderia novamente reencontrar o sorriso. O véu então caiu e a lagarta percebeu que não precisava de tantas pernas, agora ela tinha asas e entendeu a sua missão: espalhar o pólen mágico e ajudar a fecundar um mundo muito mais colorido e belo.

E não importa quão clichê seja esta ou a sua história, o importante é que ela tem a missão de nos lembrar de ver o mesmo mundo de diversas formas.