sábado, 25 de maio de 2013

Não se parte sem avisar...

Esta semana um membro da minha família decidiu que era hora de deixar de viver. Não sei quais demônios o atormentavam, mas hoje isto é o que menos importa. Desde que soube da notícia não foi exatamente nele que passei a pensar, nem nos porquês, mas vira e mexe me pego pensando naqueles que ficaram.

Penso como cada um de nós passou a semana processando a informação, pois apesar de tudo, as outras vidas devem seguir. Não é assim? Pois bem, pensei na minha mãe sozinha em casa lá em Salvador, que me confessou sua crise de choro, e que depois “passou”. Penso no meu primo que desta vez não estava lá, que desta vez não conseguiu convencê-lo a ficar mais alguns momentos entre nós. Penso na minha tia, na dor de uma mãe em ver o filho ir antes dela, ainda mais naquelas circunstâncias... Não consigo dimensionar o que ela está sentindo e nem quero ter esta pretensão, mal consigo nomear o que se passa dentro de mim.

E é aí que paro para pensar em mim, desde terça às duas e meia da tarde quando soube. Penso em todos os sentimentos que habitaram o meu coração, a minha alma. O nó na garganta que tratei de engolir até a hora de deixar o trabalho e vir para casa. Foram três horas contendo uma louca vontade de sair andando sem rumo. Não era uma vontade de correr, de gritar, era apenas uma vontade de me entregar à desorientação, de sair por aí, reoxigenar, deixar a concentração de lado e me permitir sentir o soco no estômago, o vazio que só veio me visitar durante as madrugadas, me roubando aquilo, que quem me conhece sabe, me faz uma excelente companhia: o sono.

Durante estas horas acordada, fiquei pensando que nem éramos tão próximos assim, ele é filho da minha tia que foi casada com o irmão da minha mãe. E, a última vez que o vi foi há quase um ano. No aniversário da minha mãe. Mas e daí? Criar este subterfúgio do distanciamento para tentar me convencer de que eu não deveria sentir o que sinto, só me fez ficar pior... Lembrei dele sorrindo, reclamando dos políticos, conversando com o meu pai, achando uma delícia aqueles petiscos deliciosos e gordurosos que a gente se empanturra em aniversários. Lembrei que em algum lugar existe uma fotografia desse dia e ele está nela.

Este ano não haverá fotografia, muito menos aniversário. Mas estarei lá daqui 15 dias, olhando para minha mãe, sem saber como dizer: “pode chorar mais, eu sei que ainda não passou”. Vou olhar para o meu primo sabendo que ele não se conforma e que ele sim, ao contrário de mim, soube pôr para fora tudo o que estava preso. E, em vez de dizer “você fez tudo o que pôde”, vou perguntar o que ele achou da nova camisa do Flamengo.  Para a minha tia quero apenas não conseguir falar nada, será a melhor forma de respeito, dedicar o meu silêncio pela incompreensão e deixá-la sofrer em paz, sem precisar usar a minha polidez, a minha educação e dizer algo que soe como um sinto muito. Acho que ninguém sente o suficiente...



E hoje, dentro da minha completa falta de habilidade em consolar qualquer pessoa, inclusive a mim mesma, me senti confortada e mais uma vez pelas manifestações artísticas, o meu lugar favorito, onde sempre que preciso encontro refúgio e paz, nem que seja por alguns minutos. E foi depois de assistir a Monsieur Lazhar que percebi que precisava deixar sair tudo o está aqui dentro. Esta é a forma que sei fazer: escrever. Sim, da minha forma confusa, entrecortada, mas que é a maneira que muitas coisas que não compreendo acabam fazendo um pouco de sentido.

Que ele descanse em paz. Que eu descanse em paz. Que todos nós descansemos em paz.