sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Sagitarianos

O mitológico centauro que os simboliza, sagitarianos, também poderia ser representado pela tríade corpo-mente-coração. Sagitário é bicho forte, os seus membros inferiores não servem apenas para correr, como também para desbravar o mundo sentindo o carinho do vento no rosto. Vocês podem até envergar um pouco, mas em momento algum desistem daquilo em que acredita e cavalgam por aí com a autoridade de quem carrega a certeza de que tudo vai dar certo.

A sua parte humana – demasiadamente humana – existe para que eles não se esqueçam da sua condição racional, da sua individualidade, de ser singular, mas também plural, através da dádiva de viver em sociedade e assim compartilharem, expandirem e se tornarem aquilo para o que nasceram.

Sempre prontos para agirem com seus arcos e flechas voltados para o horizonte, eles partem na caça incessante por sabedoria. São guiados pela vontade incontrolável de viajar e conhecer o mundo, sendo que a melhor viagem aconteceu no dia em que eles olharam para dentro de si mesmos e descobriram, finalmente, onde habitava o infinito.


segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Contatos Imediatos de Primeiro Grau

Existem pessoas que bastam apenas dez minutos de conversa para que floresça em nós uma sensação de intimidade, de que a conhecemos por anos e anos. Em muitos casos, a conexão é até maior do que a com pessoas que de fato conhecemos há tempos. Esta relatividade do tempo só comprova, pelo menos para mim, que quanto mais estamos dispostos a nos abrirmos à generosidade do universo, mais a sincronicidade vai acontecer. Aliás, a sincronicidade está sempre por aí, aos montes, gritando, pulando em nossa cara. O problema é que clamamos por sinais, mas, muitas vezes, eles são ignorados porque estamos mais preocupados com dores do passado e com o medo do futuro.

Experimentar um contato imediato de primeiro grau com alguém que está na mesma vibração que a sua é um presente do universo. É se nutrir de uma energia tão poderosa, capaz de tornar a caminhada mais leve, porque apesar de cada um ter a sua própria estrada de tijolos dourados para pavimentar, nada nos impede de nos unirmos a outras pessoas. Esta é uma constatação dos físicos quânticos, das mentes brilhantes que estudam as leis universais que dizem que tudo está interligado.

Algo me diz que ter coragem é fundamental para que este encontro aconteça, afinal, coragem não é ausência de medo. Coragem é, etimologicamente falando, agir com o coração. Todas as pessoas com as quais tive este contato imediato, ainda que trouxessem na bagagem frustrações, remendos e arranhões, foram e continuam indo atrás daquilo que fazem os seus corações vibrarem.


É um ato de generosidade se abrir e se permitir conectar, por isso, eu me sinto cada dia mais grata a estas pessoas que sou íntima pela energia que elas emanam e, principalmente, pelo bem que isso me causa. Saber e sentir que elas estão aqui, sempre por perto, mesmo longe fisicamente, é provar de uma das mais poderosas fontes de beleza da vida.



quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Estranha gentileza

Esta semana aconteceu um fato que eu gostaria que fosse inusitado, mas não, é um fato até bem comum de acontecer, infelizmente.

Tenho me deparado com situações onde cada vez mais o exercício da gentileza tem causado estranheza às pessoas, inclusive a mim. Parece que vivemos tão preso ao próprio umbigo, tão voltados às nossas necessidades, desejos e pensamentos, que quando alguém é cortês conosco corremos o risco de ficarmos imaginando qual é o interesse da pessoa por trás daquele ato. Já perdi as contas de quantas feições de estranheza presenciei diante de uma cordialidade, estranheza esta compartilhada também por quem estava ao redor.

Vivo me questionando como viemos parar neste ponto, onde a Lei da Vantagem, ou simplesmente, Lei de Gerson, muitas vezes impera, onde o errado é que é o certo e que, em muitas situações, fico constrangida por ser gentil com as pessoas, até porque "bonzinho só se fode". Não é está a crença? Já ouvi explicações históricas, filosóficas, psicológicas etc., mas cansei de pôr a culpa na descrença com políticos, na crise econômica, na TPM, na pessoa que me empurra no transporte público lotado...

Já recebi tanta gentileza de pessoas que nem conhecia, de pessoas nas quais sou grata até hoje. Certa vez, um rapaz que carregava no colo diversas sacolas fez questão de arrumá-las melhor só para liberar um pouco mais de espaço e gentilmente pedir para segurar a minha mochila. Confesso que me surpreendi.

Recentemente, li uma matéria na internet sobre um homem que tirou suas roupas e deu para um morador de rua que passava frio. Fiquei tocada, rapidamente repliquei na minha rede social, mas depois passei o dia refletindo sobre o fato daquele gesto ter se tornado uma notícia. Foi um gesto de solidariedade, de gentileza, acima de tudo, de empatia, mas me parece que não estamos acostumados com estas amabilidades e, talvez por isto, eu tenha me surpreendido com a oferta do rapaz em carregar a minha mochila.

Doar o lugar no ônibus a outra pessoa, não porque ele é um assento especial, mas porque percebemos que a pessoa está precisando mais dele do que nós naquele momento, dedicar alguns minutos para ensinar a um novo colega de trabalho usar o sistema da empresa, chegar atrasado a um compromisso para dar instruções a uma pessoa perdida na rua são gestos sem heroísmos que não merecem nem devem ser notícias. Deveria ser o lugar-comum, o cotidiano, deveria despertar não estranhezas, e sim sorrisos imediatos.


Algumas pessoas podem achar que esta é uma visão ingênua e romantizada, mas não há como negar a delícia que é sentir o calor no peito quando fazemos o bem a alguém. Para mim, além de ser uma forma de retribuir tanta bondade que já recebi durante a minha jornada de vida, a gentileza, seja ela sucedida de estranheza ou de sorrisos, me ilumina, me faz sentir cada vez mais que bonzinho normalmente não se fode.

“Nenhum ato de gentileza, é desperdiçado,
não importa o quão pequeno seja.”

sábado, 17 de setembro de 2016

Eu

Sou alguém apaixonada por pessoas. Não concebo a vida sem música, sorrisos e sorvete de chocolate. A arte exerce um papel fundamental, o de me transportar para outros mundos sendo um sopro na loucura da vida. Tenho um ímã para atrair loucos, tanto os de rua quanto os domesticados, me dou bem com todos. E escrevo. Muito e todos os dias. Para descobrir quem sou. Os melhores textos são aqueles que nunca consegui transcrever da mente para o papel, geralmente nascidos em translados entre algum lugar e minha casa, depois que meus olhos caleidoscópicos deixaram gravados na retina e na memória momentos, alguns breves e outros que duram uma eternidade. Meus amigos estão espalhados por aí, alguns longe, outros mais perto, todos de uma forma ou de outra, são pedaços de mim. Sou constituída do amor que aprendi a aceitar deles e do amor que eles me ensinam a dar sem medo de me decepcionar. Pessoas vêm e vão e as que estão, que fiquem para sempre. Não sei empurrar as coisas com a barriga, tudo o que eu quero, quero-ao-mesmo-tempo-agora. Apaixono-me todos os dias. A todo o momento. Sou movida pelo amor e não sei viver de outra forma.

Caiu, levantou e seguiu em frente

Amanhã acontecerá a cerimônia de encerramento das Paralimpíadas do Rio, mas uma imagem que ocorreu na abertura, no dia 07 de setembro, ainda não saiu da minha cabeça: a da ex-atleta Márcia Malsar conduzindo a tocha olímpica.

Malsar sofre de paralisia cerebral, um conjunto de desordens permanentes que afetam o movimento e a postura, causada por uma encefalite quando ela tinha dois anos de idade. Mas Márcia é daquelas pessoas que transformam as "deficiências" em lições de vida. Ela foi a primeira atleta Paralímpica a ganhar uma medalha de ouro, isto ocorreu em 1984, em Nova Iorque. Além desta medalha, ela também conquistou duas pratas e um bronze naquela mesma edição dos jogos.

Porém, duvido que muitos conhecessem Márcia Malsar antes do dia 07 de setembro deste ano. A imagem daquela mulher, aparentemente frágil, que caiu ao carregar a tocha, rodou o mundo naquela noite. Malsar levava a tocha na mão esquerda e na outra segurava a bengala que a ajudava a se locomover lentamente através do percurso molhado pela chuva que insistia em não parar, quando, mesmo com passos curtos, acabou escorregando. Em poucos segundos, duas pessoas da organização dos jogos a ajudaram a se levantar ao mesmo tempo em que as pessoas que estavam no estádio do Maracanã ovacionavam a ex-atleta. Ela se levantou e completou o seu percurso que durou pouco mais de dois minutos. 

Em uma das inúmeras entrevistas que concedeu após o episódio, ela disse que foi uma honra poder ter feito parte daquela abertura. Pois bem, Márcia, a honra foi nossa, acredite... Como se já não bastassem as lindas histórias de todos os atletas paralímpicos da Rio 2016, através de você, pudemos presenciar em dois minutos, as metáforas das nossas REAIS deficiências e limitações. 

Aqueles passos curtos nos mostraram que a vida acontece sem pressa, que cair, além de fazer parte, é essencial ao nosso crescimento e que não devemos nos preocupar se não conseguirmos levantar sozinhos, sempre haverá alguém para nos ajudar e que, no final das contas, o mais importante é seguirmos em frente. Olímpicos, paralímpicos ou "meros mortais", saber viver é isto, não é?






segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Para Califórnia, com amor

Querida Cali,
tudo começou quando deixei de escutar a negatividade alheia que citava crise e segui o meu lema de dizer a maior quantidade possível de SIMs para as oportunidades da vida. Nada como um bom planejamento financeiro e foco para chegar até você. O que eu sei é que quando você diz sim, os obstáculos vão ficando cada vez menores. Por isto, abracei a oportunidade de estudar fora do Brasil por 21 dias, te conheci e me apaixonei.

Em todos estes dias, eu fui sua. Totalmente e unicamente sua. Você foi o  melhor e mais apaixonante amor de Verão que eu já tive. Lembro que no primeiro dia de aula, o professor explicou que o mais importante em um produto são os seus benefícios intangíveis e é assim que eu te vejo e te sinto, como algo não apenas intangível, mas inexplicável. Desde que nos separamos, várias pessoas vieram me perguntar como foi te conhecer e eu não consigo usar outra palavra que seja diferente de incrível.

Não tenho como explicar o que são as suas estradas, longas, cheias de placas e bifurcações, que nos premiam com um visual das suas montanhas de tirar o fôlego. O Sol que resolveu morar de vez ai, nascendo por volta das quatro da manhã e indo se pôr lá pelas nove da noite, não sem antes desfilar todas as suas tonalidades de dourado. Que privilégio o meu de poder meditar e entrar em conexão com o Divino deitada em suas areias, banhar-me nas águas do oceano Pacífico, geladíssima, mesmo com o calor de 40 graus.

Falando em calor, desculpe-me pelo preconceito, quando imaginei que encontraria uma população fria, que trataria, nós latinos, com indiferença. Fui carinhosamente e educadamente recebida, por cidadãos comuns, nas filas de mercado e posto de gasolina. Foram tão gentis em me ajudar, em querer saber de onde eu vinha e como poderiam me ajudar.

Confesso que em muitas vezes que eu não entendi o que seus moradores falavam, mas eu consegui sempre entender e me comunicar através da linguagem universal do sorriso. É por estas e por tantas outras coisas, que eu expresso a minha gratidão, Califórnia. Foram tantas experiências e sensações que eu levaria muito tempo tentando por em palavras. O que eu prefiro mesmo, é continuar curtindo aquilo que pertence apenas a nós duas.

Com amor,
Mila.


"O que você viveu ninguém rouba."  (Gabriel García Márquez) 

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Daqui para frente

Toda a minha formação profissional foi baseada em planejamentos, métricas, índices, controles e coisas do tipo. Provavelmente reflexo do objetivo de controlar a vida. Ter metas pessoais e disciplina é extremamente saudável,  mas a busca incessante pela falsa sensação de segurança e controle das coisas é insana.

Deve ser insegurança, medo ou algo da mesma família esta necessidade de ter as coisas sob controle. Mas quais são de fato estas tais coisas que precisamos controlar? E diante destes questionamentos e me percebendo mais uma vez como um cachorro correndo atrás do rabo, que eu paro para pensar em quais são as "coisas" que me fazem feliz. O exercício de apenas permitir deixar os pensamentos virem, sem controle, sem julgamentos, invariavelmente me transporta para momentos que me deixaram entregue às sensações, e sem noção do tempo e do espaço. 

Momentos, "momentinhos", "momentões" que validam a afirmação de Adélia Prado, quando diz que o que a memória ama, fica eterno. E a minha memória afetiva se abastece exatamente quando esqueço de querer controlar. Sou grata às inúmeras situações inesperadas, que ajudaram a acender muito daquilo que intitulo de a chama da vida. Como a sensação de perceber a empatia de um garoto de cinco anos que me deu seu super-héroi de brinquedo para me proteger logo após eu ter sido assaltada.


Como não amar a o momento em que vi as minhas sobrinhas pela primeira vez? Apesar dos onze anos de diferença entre as duas, a vontade de ficar horas sentindo aquele cheiro de bebê recém-chegado à vida foi a mesma. Ainda lembro da sensação de entrar em um metrô pela primeira vez, algo talvez tão banal para uns, mas, para mim, a concretização de uma mudança de vida. Ainda sinto o ventinho gelado das ruas de Palermo quando sai correndo bêbada em Buenos Aires ralando o meu braço nas paredes das casas... Nada como sentir o coração pulsando de gratidão ao realizar o sonho da minha mãe de conhecer o Santuário de Aparecida, a delícia de cruzar toda uma cidade "apenas" para receber um abraço na catraca do metrô e me sentir invencível ao andar em uma das maiores rodas-gigantes e ver o mundo do alto.

Nenhuma planilha de Excel vai conseguir listar e mensurar estas emoções, é preciso ter coragem para se entregar ao incontrolável. Quantas sensações deixamos de sentir pela mania de querer quantificar, entender e explicar tudo? Trazer à tona certas lembranças não tem a intenção de me levar ao passado, pelo contrário, elas me ajudam a decidir como eu quero viver a minha vida daqui para frente...


domingo, 26 de junho de 2016

A borboleta que não se sabia bela

Eu acredito que existem muitos mundos por aí, acessá-los é muito mais fácil do que abrir o guarda-roupa de Nárnia, muito mais. Basta só olhar ao redor com um pouquinho mais de atenção. Existe um em específico no qual as crianças acessam como num piscar de olhos. É difícil para um adulto desprovido de imaginação acompanhar as idas e vindas das crianças deste mundo. Eu costumo chamá-lo de "Mundo das Coisas Belas". É o mesmo mundo onde nasceram a música, a poesia, o arco-íris, o cinema, o abraço, os risos, o cafuné e outras tantas coisas belas que nos fazem felizes. 

Neste mundo, as crianças podem ser elas mesmas, podem ter dúvidas, mas jamais terão receio de perguntar, aliás, parece que quanto mais destemido você é, mais tempo você passa nele. As crianças não me deixam mentir, todos os dias elas desbravam um pedaço deste mundo, sejam em seu barco de pirata se lançando em mares desconhecidos, sejam adentrando florestas secretas.

E foi numa destas florestas, que num habitual belo dia, uma criança encontrou uma lagarta desorientada andando de um lado para o outro com aquele monte de pernas. Ele, com a autoridade de quem carrega o nome de um antigo Rei Grego, conhecido como "O Grande", olhou para aquela pequena lagarta e perguntou porque ela andava daquele jeito, praticamente em círculos, rodando para lá e para cá e sem sair do lugar. A lagarta então disse que não sabia ao certo o que fazia ali, já que ninguém brincava com ela devido ao receio que os outros tinham de tocá-la e se queimarem. Além disto, devido ao seu tamanho, ela via pouca coisa, apenas a terra e folhas caídas no chão. A impressão que o garoto teve foi a de que toda aquela amplidão dava mais medo à lagarta do que o medo que os outros tinham de pegá-la.

O garoto, num ato de generosidade e coragem típica dos pimpolhos de três anos de idade, levou aquele pequeno ser para onde estavam as outras crianças. A curiosidade inicial daqueles olhinhos brilhantes deu lugar a uma tarde lúdica, onde os sorrisos daqueles pequeninos criaram uma espécie de escudo mágico, onde o medo, nem nada que não pertencesse àquele mundo, poderia entrar.

Porém, existe aquele momento do dia em que as crianças precisam voltar para o "Mundo dos Pais" e não são todos os adultos que entendem a felicidade de se passar um tempo brincando com uma lagarta. Por isto, o pequeno inseto se sentiu mais uma vez solitário e se fechou em seu casulo. O passar dos dias envolta naquele véu, presa em si mesma, foram dias reflexivos para a lagarta. 

Foi quando se deu conta de que fazia parte daquele mundo que ela tanto temia e que somente no dia em que se abrisse para a vastidão das possibilidades da vida, ela poderia novamente reencontrar o sorriso. O véu então caiu e a lagarta percebeu que não precisava de tantas pernas, agora ela tinha asas e entendeu a sua missão: espalhar o pólen mágico e ajudar a fecundar um mundo muito mais colorido e belo.

E não importa quão clichê seja esta ou a sua história, o importante é que ela tem a missão de nos lembrar de ver o mesmo mundo de diversas formas.



domingo, 27 de março de 2016

Oz é logo ali

O escritor brasileiro Érico Veríssimo acreditava que existem dois tipos de viajantes: os que viajam para fugir e os que viajam para buscar. Tal como Dorothy, os que viajam para descobrir, estão, cada um à sua maneira, à procura da sua estrada de tijolinhos amarelos, aquela que finalmente irão levá-los ao lugar que trará a sensação de pertencimento a algo. 

Abrir os portões do desconhecido não é algo fácil. Para se entrar no quartinho escuro das emoções é necessário que o aventureiro solitário seja "ao mesmo tempo" o seu próprio homem de lata, espantalho e leão. Mas, para os que entendem a necessidade desta viagem, Oz é logo ali.

Assim como o arco-íris, aquilo que você busca só irá aparecer quando todos os fenômenos e condições necessárias estejam alinhados. A mágica então acontece e aquilo que você busca também estará buscando você.  E, finalmente, você pode parar e apreciar a paisagem, agora com novos olhos. 

O pote de ouro sempre está ao alcance das mãos, basta enxergar aquilo que você nunca pensou estar vendo... 

sábado, 23 de janeiro de 2016

Ampulheta


Apesar de tantos estudos, teorias e (por quê não?) devaneios sobre o tempo, eu continuo sem nenhuma resposta concreta sobre o que ele é. E provavelmente não sou a única a carregar este sentimento. É interessante perceber como tentamos defini-lo dando ao tempo unidades de medidas e índices que, para mim, não passam de subterfúgios para torná-lo um pouco palpável e assim exercer algum tipo de controle sobre ele. 

Uma vez estava comentando com uma colega de um grupo de estudo que, apesar do caminho que fazíamos andando entre a estação do metrô e o local de estudo serem os mesmos na ida e na volta, eu tinha certeza absoluta de que a volta sempre era mais curta do que a ida. Sempre. Até hoje tenho esta sensação. Para mim, é esta a palavra-chave da minha relação com o tempo: sensações. 

Não é novidade que quando estamos enfadados ou esperando loucamente o final de semana, a sensação é a de que o tempo parece seguir lentamente, e que, quando estamos nos divertindo, distraídos, a sensação é a de que o tempo voa. Existe uma frase atribuída a Lao Tzu que liga dois grandes males da nossa sociedade à nossa relação com o tempo: "Se você está deprimido você está vivendo no passado. Se você está ansioso você está vivendo no futuro. Se você está em paz você está vivendo no presente." Ou seja, se só existisse o presente viveríamos sempre em paz? 

E aquela vontade de voltar no tempo e corrigir algo ou simplesmente experienciar novamente um momento delicioso? Quem nunca quis saber o que irá acontecer com sua vida daqui uns anos, principalmente para saber o quanto tempo lhe resta para aproveitar as sensações da vida? 

Não estou querendo fazer nenhum tipo de provocação. Confesso que adoro colecionar as boas sensações da vida, independentemente de quantas unidades de medida de tempo elas durem. Já com as ruins... Bate aquele comichão, aquela vontade de apertar o fast forward... Mas é pura ilusão de que controlamos alguma coisa. E o tempo nem ai, seguindo em seu próprio compasso, ou melhor, em seu próprio tempo. Talvez no dia que desistirmos de controlá-lo, a gente descubra que o tempo é amigo e que nada acontece no tempo certo, porque na verdade todo tempo, é o tempo certo.


Tempo amigo seja legal

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O que você precisa

Anos atrás, eu recebi um presente precioso da minha melhor amiga. Ela nunca soube os efeitos que aquela frase curta, direta e sábia causaram em minha vida. A frase "talvez você não mereça passar por isto, mas provavelmente você precisa passar por isto" dita há, sei lá, uns 15 anos, em uma época em que tudo era confuso e nebuloso, foi um dos primeiros raios de sol a surgirem entre as nuvens negras que habitavam o meu céu.

Eis que, nas últimas horas de 2015, naquele momento em que você recebe tantos desejos de paz, amor, sucesso, felicidade e em que muitas pessoas estão escolhendo a cor da roupa que irá simbolizar o desejo mor do ano que se inicia, chega um novo presente em forma de frase: "desejo que você tenha o que precisa e, na medida do possível, o que você quer." Escrita por alguém que, diferentemente da minha melhor amiga, pouco conheço, pouco me conhece, mas muito sensível ao me desejar isto.

Carregar na mente e no coração ao longo desta semana esta nova frase, me fez pensar no ponto em que estou na minha jornada, mas, principalmente, me fez pensar no meu caminhar até chegar aqui. Não foram poucas as situações em que eu tinha a certeza absoluta de que não merecia passar, mas tinha comigo aquela frase mais rica do que aquelas escondidas em biscoitos da sorte chinês"...você precisa passar por isto..." E coletando ao longo do caminho tudo, absolutamente tudo o que eu precisava, eu sobrevivi a tempestades e furacões. Tive meu telhado arrancado diversas vezes, e exatamente por isto, fui capaz de enxergar as estrelas.

É por insights como este, que a frase do ano novo me trouxe, que eu percebo o porquê preciso exercitar a gratidão todos os dias e continuar me perdoando pelas vezes em que praguejei os dias ruins. Afinal de contas, o conceito de bom e ruim é relativo. O que eu acreditava ser uma tragédia em minha vida, se revelou exatamente o que eu precisava para promover as mudanças necessárias e me aproximar cada vez mais da minha essência. Tudo sempre esteve nos locais e momentos certos.

Por isto, eu desejo que eu seja tão sábia quanto estas duas pessoas e que aprenda com os dias "bons e ruins" como aproximar cada vez mais aquilo que eu quero daquilo que eu preciso. 






sábado, 2 de janeiro de 2016

Não importa a pergunta

O ano de 2015 foi provavelmente o mais recheado de aprendizados e conseqüentemente, o mais enriquecedor da minha vida. Curioso ver nas timelines das minhas redes sociais e nos grupos que participo, a quantidade de comentários negativos sobre o ano que se passou. Não estou dizendo que não tive os meus momentos desafiadores em 2015 e gosto de usar a palavra desafiadores ao invés de difíceis, por causa de uma das coisas que aprendi no ano passado: o peso das palavras. A crise econômica também me atingiu, sofri os efeitos de crises pessoais, mas decidi olhar todos os obstáculos de 2015 como oportunidades de crescimento. Dei a cada desafio o peso que ele merecia e os encarei como os contrastes necessários para a minha evolução. 

Mas existe um outro aprendizado que 2015 me trouxe, um aprendizado muito mais eficaz do que os xaropes de vó que servem para curar tudo, desde congestão nasal até dor de barriga. O que eu aprendi é que não importa a pergunta, o amor é a resposta. Simples assim... 

E é simples mesmo. Não devemos nos deixar levar pela onda de inversão de valores. Resista! Mesmo que te chamem de tolo ou que as circunstâncias te façam duvidar disto, respire fundo e pense que todos nós estamos aqui em busca do mesmo objetivo: a felicidade. Estamos todos tentando, do jeito que sabemos, do jeito que aprendemos. A intolerância, que é prima da falta de amor, é uma erva daninha que vem ao longo de eras diminuindo a nossa compaixão e nos tornando cada vez mais egoístas. É importante ressaltar que individualismo é diferente de egoísmo. O individualismo para mim é algo positivo, significa que eu estou comigo, me amando, me perdoando, mas respeitando o outro e a sua individualidade. Enquanto o egoísmo parece-me ser algo que distancia as pessoas, quanto mais alguém quer estar no centro, mas distante ele fica do que realmente importa.

Não tenho a ilusão de que entre os dias 31 de dezembro e primeiro de janeiro os meus desafios magicamente sumiram, acho fundamental este desejo coletivo de que a cada novo ano, as esperanças se renovam, mas gosto de pensar que a cada mês, a cada semana, a cada dia, a cada hora, a cada minuto, existe a possibilidade de renovarmos as esperanças e criarmos a nossa própria realidade. É por isto que eu desejo para mim em 2016 e em todos os anos que virão, que eu sempre saiba a resposta, não importando a pergunta que a vida me faça.